Procuramos desesperadamente encaixar o mundo em nossa já estabelecida visão da realidade, mas tudo muda contra nossos desejos. Descobrimos então que não adianta nos estressar com a ideia da saída, nem a da chegada, mas apenas considerar os riscos da travessia. Vemos também que as pessoas que lutam para alcançar seus objetivos o fizeram, não porque queriam muito alcançá-los, mas talvez porque não tinham outra opção; que pensar no positivo não funciona quando a dor é insuportável; e que a energia vital não é simplesmente uma ideia esotérica, mas uma necessidade real quando se imagina estar no limite da existência.
Recebemos a difícil tarefa de tentar viver uma vida normal numa situação anormal. Para isso buscamos apoio pessoal e de equipes treinadas. Refazemos nossas prioridades e descobrimos o que estava oculto na nossa rotina automática de viver. Concluímos então que SER é muito mais importante que TER, porque na transitoriedade da vida, ao final do dia, o que realmente importa são as marcas que deixamos na nossa existência. Aprendemos a viver como dizia Vinícius, “que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”.
Ricardo Caponero
Ricardo Caponero
Oncologista Clínico Titulado pela AMB; Mestre em Oncologia Molecular; Oncologista da Clínica de Oncologia Médica; Diretor Científico da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos; Presidente do Conselho Científico da FEMAMA e do Instituto Viver Hoje; Diretor do Centro Avançado de Terapia de Suporte e Medicina Integrativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz