Dra. Grasiela Benini – médica mastologista; coordenadora do Serviço de Mastologia do Hospital Santa Marcelina

Instituto Viver Hoje: Mulheres que já entraram na menopausa podem ter câncer de mama?

Dra. Grasiela Benini – Sim a incidência aumenta com a idade, e faixa etária de maior incidência começa bem nessa fase da vida, após os 50 anos de idade.

P: Para mulheres que fazem reposição hormonal quais os riscos de desenvolver o câncer de mama?

R: Alguns estudos referem que mulheres que fazem Terapia de reposição hormonal possuem riscos aumentados de desenvolver câncer de mama. Porém se realizada com critério e para tratar sintomas importantes sintomas do climatério deve ser realizada, mas a mulher tem que ter acesso fácil aos seus exames de rotina e deve obrigatoriamente ser acompanhada com médico ginecologista.

P: Qual o impacto de um mastectomia radical na vida da mulher?

R: Mutilação é a palavra... A literatura médica indica que o relacionamento familiar exerce um papel primordial na vida destas mulheres, funcionando como apoio e ajuda para suportarem melhor o diagnóstico e suas conseqüências. A mutilação da mama, um órgão característico da feminilidade, resulta na alteração negativa da imagem corporal, representando uma limitação estética e funcional que pode trazer prejuízo na satisfação sexual. Porém, a qualidade dos relacionamentos afetivos das mulheres com seus parceiros, antes do diagnóstico da doença, parece ser um fator de forte influência na qualidade de vida entre o casal após o diagnóstico e mutilação. As relações sociais são profundamente abaladas, já que o constrangimento de estar com uma doença estigmatizante leva a mulher a se afastar do seu convívio social. A qualidade de vida é avaliada positivamente pela maioria das mulheres pesquisadas por diversos autores. Pode-se observar que a reconstrução da mama preserva a autoimagem da mulher e, portanto, proporciona um processo de reabilitação menos traumático.

"O relacionamento familiar exerce um papel primordial na vida destas mulheres, funcionando como apoio e ajuda para suportarem melhor o diagnóstico e suas conseqüências." – Dra. Grasiela Benini

P: Diagnosticado no início, o câncer de mama tem em média, 90% de chance de cura. Qual a realidade do Brasil em detecção precoce? Onde estamos e onde precisamos chegar para diminuir as estatísticas de morte?

R: Nossa realidade é desesperadora. No Brasil, 75% da população depende do precário serviço público de saúde e, por conta disso, uma média de 30% dos novos casos são diagnosticados já com estadiamento avançado. No Santa Marcelina, essa taxa chega a quase 50%, porque acabamos recebendo pacientes de todo o Brasil, portanto nossa realidade em diagnóstico precoce é trágica. Devemos conscientizar as mulheres da necessidade de realizar rastreio e também nossos governantes a fim de realizar políticas de saúde que viabilizem o diagnóstico precoce. Conscientizar e ter acesso ao rastreio com mamografia é o caminho!

P: Qual a sua visão sobre campanhas de prevenção e o real impacto na população?

R: Um dos grandes problemas do rastreio do câncer de mama é que as mulheres não fazem a mamografia. A maioria simplesmente não vai à procura do exame. No serviço do Hospital Santa Marcelina não temos fila de espera para realizar mamografias, mas temos mais de quatrocentas mil mulheres com idade de indicação de rastreamento. Portanto o papel das campanhas se torna muito importante para conscientizar essas mulheres da importância de realizar o exame, possibilitando fazer um diagnóstico precoce da doença.

Sabemos que em muitos locais do país não temos mamógrafos suficientes para toda a população alvo e que, nesses pontos, programas que trazem campanhas como as ‘carretas da saúde’ com mamógrafo atuam diretamente no rastreio do câncer de mama.

O Santa Marcelina tem uma importância vital para a zona leste de São Paulo tanto quanto um oásis no deserto: sem esse serviço a população ficaria sem tratamento. – Dra. Grasiela Benini

P: Qual a importância do Hospital Santa Marcelina para a região da Zona Leste de São Paulo?

R: A zona leste de São Paulo, incluindo o extremo leste, é a região com a densidade populacional mais alta da cidade. Nosso Hospital é responsável pelos tratamentos de toda esta região. Realizamos o tratamento completo para o câncer de mama e suas complicações, além disso também somos ‘hospital escola’ – ou seja – responsável pela formação de novos especialistas. O Santa Marcelina tem uma importância vital para a zona leste de São Paulo tanto quanto um oásis no deserto: sem esse serviço a população ficaria sem tratamento.