Atuação do fisioterapeuta no tratamento do paciente com câncer de mama
   Atuação do fisioterapeuta no tratamento do paciente com câncer de mama

As mamas são glândulas cuja principal função é a produção do leite. O leite forma-se nos lóbulos e é conduzido até os mamilos por pequenos canais chamados ductos. Como todos os outros órgãos do corpo, elas possuem vasos sanguíneos que irrigam a mama com sangue e os vasos linfáticos onde circula a linfa. A linfa é um líquido claro que tem uma função semelhante ao sangue: levar nutrientes para as diversas partes do nosso corpo e recolher as substâncias indesejáveis. Os vasos linfáticos das mamas drenam para os gânglios linfáticos nas axilas e no tórax.

Câncer de mama

Consiste em um crescimento descontrolado de células da mama, que adquiriram características anormais (células dos lóbulos, produtores do leite, ou dos ductos, por onde é drenado o leite), anormalidades estas causadas por uma ou mais mutações no material genético de uma célula destas estruturas.

A Organização Mundial da Saúde estima que, por ano, ocorram mais de 1.050.000 casos novos de câncer de mama em todo o mundo, o que torna o câncer mais comum entre as mulheres.

É provavelmente o mais temido pelas mulheres devido à sua alta frequência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal. É relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente.

O prognóstico do câncer de mama é considerado bom. Verifica-se que a sobrevida nos países desenvolvidos é na ordem de 73% e nos países em desenvolvimento de 57%. Nos EUA a elevação na incidência tem se associado à diminuição da mortalidade, observando-se uma sobrevida de 84,1% em 5 anos, fato este consequente aos avanços no tratamento e à realização de programas de rastreamento. No Brasil, a elevação da incidência tem se associado à elevação na mortalidade, e a sobrevida é de 67,8% aos 5 anos, decorrente do limitado número de mulheres diagnosticadas precocemente.

Sintomas

Muitos tumores de mama não dão qualquer sintoma e, por esse motivo, é importante estar familiarizada com a aparência, sensações, formas e texturas das mamas para detectar qualquer alteração. Seguem alguns sintomas que ocorrem com mais frequência:

  • alterações do tamanho ou forma da mama;
  • assimetria entre as duas mamas, como, por exemplo, uma maior que a outra;
  • coceira frequente na mama ou no mamilo;
  • endurecimento da pele da mama, semelhante à casca de laranja;
  • formação de crostas ou feridas na pele junto do mamilo;
  • inchaço e nódulos frequentes nas ínguas das axilas;
  • inversão súbita do mamilo;
  • liberação de líquido pelo mamilo, especialmente se for sangue;
  • nódulo ou caroço na mama, que está sempre presente e não diminui de tamanho;
  • presença de um sulco na mama, como se fosse um afundamento de uma parte da mama;
  • vermelhidão, inchaço, calor ou dor na pele da mama;
  • veia facilmente observada e crescente.

Se tiver dor persistente, apesar de não ser um sintoma relacionado ao câncer, deve procurar o médico.

Fatores de risco

O câncer de mama não tem uma única causa, há diversos fatores relacionados ao aumento do risco de desenvolver a doença, tais como:

  • exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos;
  • fumo: o uso do cigarro pode aumentar a incidência de câncer principalmente em mulheres que possuam outros fatores associados. Além de ser um fator de risco para o câncer de mama, o tabagismo pode desencadear outros tipos de câncer, aumentando também a probabilidade de desenvolvimento de doenças pulmonares e cardiovasculares. Existem evidências de que seu consumo está associado ao desenvolvimento de diferentes tipos de tumores malignos, onde alguns desses são estreitamente relacionados ao tabagismo;
  • ingestão de bebidas alcoólicas: as pessoas que ingerem bebidas alcoólicas ficam expostas ao etanol e ao acetaldeído, este último originado a partir do metabolismo do álcool pelo corpo, ambas substâncias químicas consideradas cancerígenas. Outro fator relacionado ao etilismo e câncer pode ser explicado pelo efeito “solvente” desempenhado pelo álcool, o que faz com que substâncias tóxicas, advindas do consumo do tabaco, por exemplo, entrem mais facilmente na célula. Relacionado especificamente ao câncer de mama, o álcool pode afetar o nível de certos hormônios no corpo, como o aumento do nível de estrogênio, que é um fator envolvido no desenvolvimento do câncer de mama;
  • não ter filhos e não amamentar: o desenvolvimento da primeira gestação ajuda no processo de maturação das células da mama, tornando-as potencialmente mais protegidas em relação à ação de substâncias cancerígenas. Estudos reforçam que mulheres com primeira gestação antes dos 18 anos de idade apresentam 1/3 do risco daquelas que não gestaram ou a primeira gestação ocorreu após os trinta anos de idade. Ainda, a gestação precoce seguida ou não de lactação, além de diminuir a exposição ao estrogênio, induz diferenciação do lóbulo mamário, tornando-o menos susceptível a mutações e induções neoplásica;
  • história familiar, principalmente se mãe ou irmã (parentesco de 1º grau) tiveram câncer de mama antes dos 50 anos de idade. A história familiar é considerada um importante fator de risco, pois pode indicar uma predisposição genética para o surgimento da doença, embora essa hereditariedade corresponda apenas a 10% do total de casos de mulheres com câncer de mama;
  • menarca precoce (idade da primeira menstruação) ou menopausa tardia (após os 50 anos de idade);
  • obesidade: o excesso de peso corporal parece influenciar no desenvolvimento e na progressão do câncer de mama devido ao aumento da síntese do estrógeno, resistência à insulina e ativação de vias inflamatórias;
  • quanto maior a idade, maior o risco: idade acima de 50 anos é o fator de destaque na causalidade do câncer de mama e em muitos casos é o único encontrado. A incidência de câncer de mama aumenta progressivamente com a idade devido à exposição e os efeitos cumulativos dos agentes carcinogênicos durante a vida. Outro aspecto importante é a observação de maior mortalidade nessa faixa etária, principalmente pelo fato do diagnóstico ser realizado em estágios avançados da doença;
  • uso em longa duração de Terapia de Reposição Hormonal (TRH), principalmente estrógeno e progesterona associados.

Tipos de cirurgias

Atualmente, há vários procedimentos cirúrgicos para retirada do câncer de mama:

  • Lumpectomia: remove o nódulo de tumor e uma margem limpa, "livre de doença".
  • Mastectomia: caracteriza-se como uma cirurgia total ou parcial da mama, podendo ou não estar associado à retirada dos gânglios linfáticos da axila / esvaziamento axilar.
  • Mastectomia conservadora: consiste na remoção do tumor primário com margens de tecido normal, histologicamente negativas e dissecção axilar, sendo a radioterapia complementar obrigatória na mama submetida à cirurgia para controle da doença, podendo ser do tipo Tumorectomia e Quadrantectomia.
  • Tumorectomia: é um procedimento cirúrgico conservador, que consiste na remoção do tumor com margens de tecido circunjacente de 1 cm, sendo necessário que estas margens estejam histologicamente negativas. Este procedimento é indicado para tumores de até 1,5 cm de diâmetro.
  • Quadrantectomia: remoção de um quadrante ou segmento da glândula mamária onde se localiza um tumor maligno, e as margens circunjacente de tecido normal entre 2 e 2,5 cm, sendo que em conjunto com o esvaziamento axilar radical e a radioterapia proporciona melhores resultados em tumores de até 2 cm, mas dependendo do tamanho da mama pode ser usado em tumores de até 3 cm de diâmetro.
  • Mastectomia parcial: remove o tumor, uma área de tecido normal e parte da camada acima do músculo onde o tumor estava.
  • Mastectomia total: remove toda a mama, os músculos peitorais, todos os linfonodos axilares, tecido gorduroso e pele.
  • Mastectomia radical modificada: remove a mama, com o esvaziamento axilar radical com a conservação do músculo grande peitoral, com ou sem preservação do pequeno peitoral, podendo ser divididas em Mastectomia Radical Modificada Patey ou Mastectomia Radical Modificada Madden.
  • Mastectomia Radical Modificada Patey: remoção da glândula mamária e músculo pequeno peitoral de suas inserções, terceiro, quarto e quinto espaços intercostais, em monobloco, com esvaziamento axilar radical (níveis I, II e II), linfonodos interpeitorais, aponeurose anterior e posterior do músculo grande peitoral.
  • Mastectomia Radical Modificada Madden: remoção da glândula mamária, juntamente com a aponeurose anterior e posterior do músculo grande peitoral e no esvaziamento axilar (níveis I, II e II) e linfonodos interpeitorais, sendo preservado o músculo grande e pequeno peitoral.
  • Esvaziamento axilar: é a retirada dos gânglios linfáticos da axila e deve ser realizada, preservando-se, na medida do possível, todas as estruturas nervosas e vasculares.
Atuação do fisioterapeuta no tratamento do paciente com câncer de mama
   Atuação do fisioterapeuta no tratamento do paciente com câncer de mama

Como se prevenir

Para prevenção do câncer de mama algumas medidas devem ser seguidas, como:

  • controlar o peso corpóreo: a obesidade aumenta o risco de câncer de mama após a menopausa; 
  • evitar a ingestão de bebidas alcoólicas: o consumo de álcool está associado a um risco aumentado de câncer de mama. As mulheres devem limitar o consumo a não mais do que uma dose por dia, independentemente do tipo de álcool;
  • fazer autoexame regularmente, realizar exames clínicos da mama até os 40 anos e mamografia a partir dos 40 anos;
  • praticar atividades físicas: diversos estudos sugerem que o aumento da atividade física, mesmo quando iniciado mais tarde na vida, reduz o risco total de câncer de mama de 30% para 10%; 
  • não fumar; 
  • ter uma alimentação saudável: uma dieta rica em vegetais e frutas e pobre em bebidas com açúcar, carboidratos refinados e alimentos gordurosos. Coma proteína magra, peixe ou peito de frango, e carne vermelha com moderação. Procure comer cereais integrais e prefira óleos vegetais sobre gorduras animais;
  • um banho de sol de 10 minutos, antes das 10 horas ou após as 16 horas, não faz mal a ninguém. A leve exposição aumenta a produção de vitamina D, reduzindo pela metade os riscos de câncer de mama.

Fisioterapia no câncer de mama

O fisioterapeuta especialista em oncologia representa uma peça fundamental na equipe multidisciplinar, tanto no processo de prevenção quanto de reabilitação.

O tratamento fisioterapêutico deve ser realizado logo após o diagnóstico do câncer de mama e prossegue em todas as fases da doença:

  • no pré-tratamento: diagnóstico e avaliação; 
  • durante o tratamento coadjuvante (quimioterapia, radioterapia, cirurgia e hormonioterapia); 
  • após o tratamento (período de seguimento); 
  • na recorrência da doença e nos cuidados paliativos. 

Em cada uma dessas fases, é necessário conhecer e identificar as necessidades do paciente, os sintomas e suas causas, e o impacto desses nas atividades de vida diária. Iniciando o tratamento precocemente, a fisioterapia ajuda a minimizar as sequelas e evitar a acentuação de problemas físicos, além de prevenir a instalação de novas complicações que cada paciente poderá vir a apresentar durante todas as fases do tratamento e que podem gerar a diminuição na qualidade de vida.
A fase pré-operatória tem bastante importância, pois reduz o tempo de internação e permite que a paciente retorne mais rapidamente às atividades diárias e ocupacionais. A avaliação nesta fase é essencial para o acompanhamento geral das consequências provenientes da cirurgia, à elaboração do prognóstico de recuperação e conscientização da paciente sobre a importância dos procedimentos da fisioterapia no pós-operatório, além de esclarecer sobre a cirurgia. 
Na fase do tratamento adjuvante, seja ele radioterápico, quimioterápico ou hormonioterápico, sobrepõe-se às sequelas cirúrgicas, aumentando os riscos de complicações. A fisioterapia, quando iniciada precocemente, desempenha um importante papel na busca da prevenção das complicações advindas do tratamento do câncer da mama, favorecendo o retorno às atividades de vida diária e melhor qualidade de vida.

No pós-operatório imediato é dado enfoque nas complicações respiratórias, circulatórias e motoras. Já no tardio, busca-se evitar complicações como:

  • aderências cicatriciais, seroma e deiscência;
  • reduzir algias: a dor é uma queixa frequente da paciente, devendo ser controlada e tratada em todas as etapas da doença; 
  • limitações de movimentos; 
  • linfedema. 

As mulheres operadas que fazem fisioterapia após a cirurgia recuperam a funcionalidade mais cedo, sentem-se mais seguras e apresentam menos dificuldades no processo de reabilitação.

O fisioterapeuta utiliza-se de várias técnicas e métodos, que incluem: 

  • exercícios respiratórios; 
  • exercícios de alongamento global e fortalecimento muscular; 
  • enfaixamento compressivo;
  • manobras de drenagem linfática manual; 
  • movimentos de facilitação neuromuscular proprioceptiva e atividades funcionais;
  • reeducação postural;
  • recursos analgésicos: tens, crioterapia, mobilização passiva, técnicas de relaxamento muscular.

Os exercícios são benéficos não somente para o bem estar geral, mas também para as articulações, musculatura e movimentação, além de manter e melhorar a força muscular, a saúde e a energia. Por isso, devem ser usados como estratégia até mesmo para aqueles pacientes oncológicos que relatam fadiga. 

Fontes consultadas

  1. Atuação da fisioterapia no pré e pós-operatório do câncer de mama. Revista PIBIC, v. 2, p. 89-93, 2005. 
  2. Ministério da Saúde. Controle do câncer de mama: documento de consenso. p. 7–16, abr. 2004.
  3. Anatomia da mama. Fonte: 
  4. Vieira RAC. Sobrevida de pacientes portadoras de câncer de mama. Estudo comparativo entre pacientes de Hospital Oncológico no Brasil e população Americana. Botucatu. [Pós-doutorado] - Faculdade de Medicina da UNESP; 2012.
  5. Hedioneia Maria Foletto Pivetta et al. Prevalência de fatores de risco de mulheres com câncer de mama. Rev. Ciênc. Méd. Biol., Salvador, v. 13, n. 2, p. 170-175, mai./ago. 2014.